John Q
Realizador: Nick Cassavetes
Actores: Denzel Washington; Robert Duvall; Anne Heche
Música: Aaron Zigman
Duração: 116 min.
Ano: 2002
O filho de uma família negra norte-americana adoece gravemente e é levado de urgência para um hospital, por acaso, privado. O pai do rapaz está à beira do desemprego e o seu seguro não chega para pagar as elevadas despesas. A vida do filho corre perigo. Numa cena fria e crua, assistimos à conversa dos pais com os médicos e os responsáveis do hospital, onde se revela que o factor decisivo para a permanência do rapaz no hospital são os números e os interesses económicos. O tempo passa e o doente vai piorando. Numa medida desesperada, o pai assalta o hospital. Faz alguns reféns e exige que o tratamento do filho seja garantido. A partir daqui a história ganha um novo fôlego. Os meios de comunicação social noticiam o facto e criam opinião pública. As histórias pessoais dos reféns ilustram diferentes “modelos” de vida, em que uns apoiam o pai e compreendem o seu drama, enquanto que outros pensam exclusivamente em si, procurando escapar e alcançar a glória de aparecer na TV como corajosos heróis. Também entre as forças de segurança há quem só pense no êxito da sua carreira profissional e quem actue com prudência, tomando decisões sem se deixar levar pela procura imediata do sucesso. Os responsáveis do hospital hesitam entre ceder ou manter a sua decisão. Num acto de desespero, o pai chega mesmo a pensar acabar com a sua própria vida para que os médicos removessem o seu coração e o dessem ao seu filho. Um filme que, no final, deixa ainda bastantes questões que ficam em aberto…
Na nossa opinião, a personagem principal (o pai) agiu contra a lei, contudo pensamos que actuou da melhor forma pois contrariou a lei para salvar uma vida.
Pesa também o facto de ao princípio a personagem do filme vender todos os seus móveis da casa para juntar dinheiro suficiente para a operação do filho. Depois de juntar uma boa parte, dirijiu-se ao hospital e prometeu pagar o resto quando fosse possível. O hospital não aceitou a sua proposta e disse-lhe que desistisse do filho, levando-o a agir de tal forma.
Fundamentação Teórica:
Kohlberg apresentava aos sujeitos da investigação
uma sequência de histórias ou dilemas morais hipotéticos destinados a colocar o
indivíduo diante de um conflito entre a conformidade habitual a regras ou à
autoridade em oposição a uma resposta utilitária ou de bem maior. Os dilemas
apresentam conflitos entre padrões simultaneamente aceites por grande parte da
comunidade.
Observe-se que um dilema difere das histórias
que se contam as crianças, onde: o bem e o mal se contrapõem, o bom sempre aparece
como vencedor, onde a criança recebe a resposta pronta do adulto ou o adulto
apresenta a solução correcta. Utilizando o método clínico, como Piaget, o
investigador apresentava a cada sujeito um dilema de cada vez, solicitando-lhe
que o julgasse e apresentasse justificações para as escolhas ou soluções.
Com base nestas questões/dilemas, como por exemplo o filme de Nick Cassavetes, “John
Q”, Kohlberg propôs uma teoria segundo a qual o desenvolvimento moral se
processa a partir de uma sequência invariante de três níveis de raciocínio
moral, cada um deles subdivididos em
dois estádios, perfazendo um total de seis estádios. Saliente-se que cada nível
ou estádio representa uma forma de raciocínio moral, mais do que uma decisão
moral concreta.
Nível
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Estádio
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Caracterização
da orientação social
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Pré-convencional
(baseado em punições e recompensas)
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1
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obediência e punição
(obediência a regras para evitar a punição)
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• Ponto de
vista egocêntrico. • “Não-eu”: não distingue entre o seu eu e o ambiente. •
Não reconhece que os outros tenham interesses próprios.
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2
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individualismo, instrumentalismo e troca (Obediência a certas
recompensas para os favores serem devolvidos)
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• “Eu”: as
minhas necessidades, o meu ego. • Satisfazemos as nossas necessidades. • Os
outros que façam o mesmo. • Distingue os seus interesses dos outros.
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Convencional (baseado
na conformidade social)
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3
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moralidade do “bom rapaz / linda menina”
(conformidade para evitar desaprovação ou não gosto por parte das
outras pessoas)
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• Orientação
para a integração e para agradar aos outros. • Conformidade com os
estereótipos sociais.
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4
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lei e ordem – moralidade da manutenção da autoridade
(conformidade para evitar censura por autoridades legítimas, com a
culpa resultante)
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• Orientação
para o respeito da ordem e da autoridade e para o que a sociedade espera de
nós.
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Pós-convencional
(baseado em princípios morais)
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5
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contrato social - moralidade de contrato, direitos individuais e lei
aceite democraticamente
(respeitar leis da terra ou bem-estar comunitário)
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• Compreensão
da reciprocidade. • Respeito pelos contratos entre pessoas e entre
instituições. • Interesse genuíno pelo bem estar dos outros e pelo bem colectivo.
• Consciência do maior bem para o maior número (colectividade, democracia).
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6
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consciência de princípios - moralidade dos princípios individuais da
consciência (respeitar princípios éticos universais)
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• Princípios
éticos eternos e universais. • Justiça, dignidade humana. • Os princípios
universais estão acima da lei.
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